Cultura
Músico cabo-verdiano, Hélio Ramalho lança single Natura, em gratidão à natureza e à preservação da vida
Impactado pela pandemia, o artista africano radicado no Brasil se inspirou na grande mãe para resgatar o sentido de felicidade que une Brasil e África. De estilo afrofuturista, música é cantada em português e crioulo
Há 16 anos, o cabo-verdiano Hélio Ramalho deixou a Ilha de São Nicolau, um lugar com menos de 15 mil habitantes, para viver no Brasil. Quando partiu de sua terra natal, Hélio era, portanto, um jovem de 22 anos, que trazia, ainda, o desejo de viver a cultura brasileira, cursar a universidade e conhecer os ritmos do Brasil. Trazia na bagagem a cultura musical herdada da família de músicos. O avô materno, Mané Pchei, é uma referência na história cultural de São Nicolau (Pchei e seu grupo são estudados hoje nas universidades do Brasil, Japão e Alemanha). É também a principal referência na carreira de Hélio.
Hoje, aos 39 anos, com diploma de engenheiro civil, várias apresentações realizadas no Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo, e parcerias com reconhecidos músicos brasileiros, Hélio é reconhecido por unir os elementos da cultura africana aos estilos musicais brasileiros. Como cenário para o single Natura, que acaba de ser lançado em todas as plataformas digitais de música pelo selo Indigo Azul, escolheu uma área preservada em Bertioga.
Em Natura, a vertente afrofuturista de Hélio Ramalho ganha ainda mais pegada eletrônica em parceria com o baixista Klaus Sena, músico, produtor musical e técnico de som. Helio diz que a inspiração para escrevê-la vem das conversas com seu melhor amigo e que a letra convida a uma reflexão sobre a busca de um sentido de felicidade menos complexo. “Natura traz um senso de felicidade com menos coisas materiais, com pessoas centradas em sentir o presente, com mais capacidade de percepção de que os recursos naturais são a fonte da vida”, conta Hélio. “Parece simples, mas só a natureza nos devolve a sensação de uma conexão que envolve muitos sentidos ao mesmo tempo, a ciência de estar vivo.”
“Feliz aquele que conseguir, no mundo que a gente vive, acordar de manhã, e observar o orvalho nas plantas. Respirar ar puro ciente que isso é vivo.” Já no primeiro verso, Natura se apresenta inspirada na grande mãe, que representa mares, montanhas, florestas e animais. Impactado pelos efeitos sociais e econômicos que abateu a todos durante a pandemia, o músico e compositor produziu, com recursos próprios, e parceria de trabalho com amigos, o clipe Natura. Assim como muitos brasileiros e profissionais da área de cultura, viu minguar os trabalhos no decorrer de 2020. O que fazer? “Passei a pandemia estudando, com orçamento bastante limitado, e convivendo com pessoas que valorizam o compartilhamento, as parcerias, ainda mais em um momento tão difícil para o mundo”.
O clipe Natura foi gravado numa área preservada de Bertioga, num cenário de mar, verde e vento, pelo cinegrafista Conrado Lessa e direção do próprio músico. Hélio está trabalhando ainda na produção de outras composições autorais e de forma independente, sempre com a proposta de resgatar a cultura do seu país e, em particular da Ilha de São Nicolau e conectá-la à musicalidade brasileira. De Cabo-Verde, o músico pesquisa os ritmos funaná, batuque, tabanca, coladeira, morna, manzurca, são joão, são pedro, tchabeta.
Do Brasil declara ter influência de Gilberto Gil, Caetano, Nação Zumbi e também do samba e da bossa nova. Um pouco desta mistura pode ser conhecida em algumas de suas canções mais conhecidas: África, Cabo Verde, Mané Pchei, El Reto, Carnaval, essa última abriu sua recente apresentação no Festival Gringa Music, que ocorreu online, em março. Todas as suas canções foram gravadas em crioulo, um dialeto cabo-verdiano.
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