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São Nicolau/Cinema: Mar Liso último barco de madeira em filme documentário

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O último barco em madeira “Mar Liso”, que ainda navega nos mares de Cabo Verde, com escala em São Vicente e São Nicolau, vai ser documentado em filme, visando a preservação da memória deste património marítimo cultural nacional.

A informação foi dada hoje à Inforpress pelo autor do documentário “Mar Liso”, escritor e historiador José Cabral, tendo adiantado que o lançamento está previsto para Junho deste ano, data em que o navio completa 40 anos que foi registado como barco de cabotagem, caso houver financiamento e disponibilidade necessários.

Construído em 1927, Mar Liso completa também, este ano, 95 anos de existência, 42 anos em Cabo Verde, dos quais 40 anos a ligar São Vicente a São Nicolau, ressalvou José Cabral alertando que a embarcação está em iminência de aposentar-se.

Daí a importância de prestar uma homenagem e de preservar, segundo mesmo, a memória do último barco em madeira restante em Cabo Verde.

Mar Liso, recorda o historiador, já abasteceu “muito e principalmente” a ilha de São Nicolau, sua terra natal, transportando mercadorias, pessoas, doentes, sinistrados, parturientes e, por estar próximo da sua aposentadoria, decidiu fazer esse trabalho.

“E vamos aproveitar para irmos um pouco mais atrás e recuperar um pouco daquilo que é o património marítimo cabo-verdiano que, como é sabido, é valioso. Eu não sou o único a chamar atenção para este património, o famoso Gabriel Mariano já tinha alertado, ele escreveu: ‘Kabá (acabou, em português) Navio, kabá vapor, kabá tud, gentes sem juízos, quem cometeu este crime?’ E não escutamos Mariano”, sublinhou José Cabral.

Por conta disto, acrescentou, todo o património marinho de Cabo Verde perdeu-se, felizmente, apontou, ainda se tem Mar Liso e através dele vai-se simbolizar os outros que se perderam.

Conforme avistou o autor, se está na era de barcos rápidos, ‘roll on roll off’, o carregamento manual vai deixando de existir, a própria Enapor (empresa de administração dos portos), explicou, já tem dificuldades em prestar esses tipos de serviços porque já não há estiva manual.

E, Mar Liso, continuou, está praticamente a operar como se operava a 200 anos atrás, e isso é muito histórico e emblemático para Cabo Verde, por isso, reiterou a necessidade da sua preservação: para daqui a uns anos quando deixar de existir, as gerações vindouras saberão como se carregavam os navios antigamente.

“Mar Liso já prestou serviços para ilha do Sal, Santo Antão, carregou derivados de combustíveis para vários ilhas, ele merece, sobretudo por ser representativo de todos os outros barcos de madeira que por aqui passaram, Manel Lica, Gilica, Gavião dos Mares e tantos outros”, frisou.

De acordo com José Cabral, o filme documentário “Mar Liso” já conta com apoio da Enapor, do Núcleo Nacional de Cinema (NuNac) e da Câmara Municipal de Ribeira Brava, mas cinema, por ser “muito caro”, carece de mais apoios, por isso apelou às “pessoas de bem que valorizam a cultura” a colaborarem nesta documentação histórica do arquipélago.

O projecto, que já está em processo de gravação, conta com a colaboração do realizador e produtor cabo-verdiano Jean Gomes, do professor e investigador Brito Semedo e de depoimento do professor Wlodzimierz Szymaniak.

Inforpress

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