Sociedade
Carlos Cesaltino Brito: Dom da medicina tradicional em extinção
O são-nicolauense Carlos Cesaltino Brito é conhecido por utilizar a medicina tradicional para devolver a saúde às pessoas quando, por falta de resultado, desistem do tratamento convencional. À procura por seus serviços ultrapassa a distância, visto que pessoas de outras ilhas e nações recorrem frequentemente aos seus cuidados.
“Quando há muita procura numa ilha, sou eu quem vou lá ter”, explica Cesaltino, precisando que São Vicente é a ilha que mais solicita a sua atenção. “Muitas pessoas de São Vicente conhecem o meu trabalho e me procuram para tratamentos.”
A sua especialidade é “colocar os ossos no caminho”, “fechar o corpo” e “alinhar a espinha”. Tem apenas uma mão como o seu principal instrumento de trabalho. Isso porque, devido a um acidente vascular cerebral, ficou paralisado do lado esquerdo. Para driblar a limitação, aprendeu a trabalhar com a mão direita.“Depois que tive este problema, por ser canhoto, o esforço passou a ser em dobro para fazer tudo com a mão direita.”
Carlos Cesaltino conta que descobriu este seu dom para “cura” ainda em criança. Começou por experienciar e aprimorar a sua capacidade em animais. Mais tarde, aos 15 anos, resolveu testar as suas técnicas em pessoas.
Chegou a viver algum tempo na Holanda. Naquele país fez um estágio em fisioterapia e pôde trabalhar por dois anos num hospital na área da ortopedia. Uma das suas maiores façanhas foi “curar” o Rei da Bélgica, que sofria de problemas lombares, por indicação de um cabo-verdiano a residir naquele país, Dr. Adrião Monteiro, especialista em Cirurgia Ortopédica.
Apesar do reconhecimento que vinha granjeando e do aumento da procura, resolveu resolveu voltar para a sua terra, “para ser mais útil” à sua gente. Actualmente, sente que pessoas com o dom de cura tradicional estão a desaparecer. É o caso, por exemplo, de Nh´Antone Julin, já falecido, que era conhecido como um verdadeiro “doutor de ossos”, que também conhecia as propriedades da areia da praia do Tarrafal e dos banhos de ervas.
Hoje Carlos Brito sente-se muito só nesta sua área. Mostra-se por isso disposto a passar este conhecimento aos mais novos, mesmo convicto de que para fazer o que faz é preciso se ter um talento “inato”. Paralelamente, pretende continuar a exercer esta “missão que a vida lhe ofereceu” até não poder mais.
Sidneia Newton (estagiária)
Fonte: Mindelinsite
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